03 nov Restauração florestal pode render bilhões
Novo relatório do World Resources Institute aponta que as áreas degradadas na América Latina oferecem uma oportunidade inexplorada de gerar bilhões de dólares enquanto melhora a produtividade ambiental e o estoque de carbono.
O relatório The Economic Case for Landscape Restoration Latin America constata que atingir o objetivo da Iniciativa 20×20 de restaurar 20 milhões de hectares de terra na América Latina e no Caribe pode render benefícios líquidos de pelo menos US$ 23 bilhões nos próximos 50 anos, o equivalente a cerca de 10% do valor das exportações de alimentos da região.
“Áreas degradadas e improdutivas são entraves para os produtores rurais e para as economias nacionais”, disse Walter Vergara, Membro sênior do WRI e principal autor da publicação. “Porém, também representam uma tremenda oportunidade. A análise econômica da restauração mostra, pela primeira vez, que se pudermos devolver a produtividade da terra, a restauração não apenas se paga, como cria bilhões de dólares adicionais, gera cobenefícios ambientais e representa uma grande oportunidade para aumentar o estoque de carbono, contribuindo com os esforços na mitigação das mudanças climáticas”.
Vinte por cento de toda a área florestal e agrícola na América Latina e no Caribe está degradada. Esta terra, degradada principalmente pela exploração madeireira e pecuária, torna-se gradualmente mais improdutiva, diminuindo não só sua capacidade agrícola como perdendo potencial de geração de serviços ambientais, como filtragem de água e riqueza do solo. O WRI identificou 650 milhões de hectares de terras aptas para a restauração na América Latina e no Caribe, uma área equivalente a mais de que o dobro do tamanho da Argentina. A organização calcula que 15% desta área poderia ser restaurada com ecossistemas naturais; outros 15% poderia ser destinado à melhoraria do desempenho das terras agrícolas e 70% poderia ser restaurado em mosaicos economicamente produtivos de florestas, pastagens e agricultura.
“Esse relatório reflete as razões pelas quais a Colômbia está trabalhando para restaurar um milhão de hectares de terra em parceria com a Iniciativa 20×20 e o Desafio Bonn”, disse Luis Gilberto Murillo, Ministro do Meio Ambiente e do Desenvolvimento Sustentável da Colômbia. “A restauração irá beneficiar a população rural através do enriquecimento da qualidade das pastagens, proporcionando sombra para fazendas de café sustentáveis e criando novas oportunidades para o ecoturismo, ao mesmo tempo que vai nos ajudar a atingir nossas metas climáticas”.
Onze países latino americanos, bem como alguns estados brasileiros e outras organizações privadas se comprometeram a restaurar áreas degradadas através da Iniciativa 20×20, um esforço regional em apoio ao Desafio Bonn, que inclui Guatemala, Honduras, Nicarágua, Colômbia, Peru, Chile, Argentina, Equador, Costa Rica, El Salvador e México, além dos estados brasileiros de São Paulo, Espírito Santo e Mato Grosso.
“Essa análise mostra porque a restauração é uma das formas mais rentáveis para a América Latina enfrentar as mudanças climáticas e se precaver de seus impactos”, disse Carlos Nobre, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Mudanças Climáticas (INCT-MC). “Ao restaurar as vastas florestas da América Latina e ao melhorar as práticas agrícolas, podemos passar o carbono da atmosfera para solos e vegetações onde ele pode enriquecer a terra e gerar benefícios econômicos substanciais.” O relatório do WRI traz o argumento econômico para a restauração, que já está claro na visão dos futuros investidores. Financiadores públicos e privados destinaram US$ 1,15 bilhão para o financiamento de projetos de restauração da Iniciativa 20×20, incluindo os investidores Althelia, EcoPlanet Bamboo, Permian Global, Sustainable Land Management (SLM) Partners, EcoEnterprises Fund, Terrabella Fund, Moringa Partnership, Carana Corporation, the Amazon Reforestry Fund, Amazon Andes Fund, Forestry and Climate Change Sub Fund e Rare.
“A restauração não é apenas uma boa política ambiental, ela dá sentido aos negócios. É por isso que temos reservado pelo menos US$ 70 milhões para apoiar a restauração de áreas agrícolas, pastagens e florestas em toda a América Latina”, disse Juan Carlos Aybar, Diretor da América Latina para Althelia, empresa de investimento de impacto. “Esperamos significativos benefícios sociais e ambientais do nosso trabalho no Peru, na Guatemala e no Brasil, mas também sabemos que é um investimento financeiro inteligente para nossa empresa”.
O relatório estima que os proprietários de terras podem se beneficiar de um aumento do valor de cerca de US$ 1.140 por hectare, em média, restaurando terras degradadas na América Latina e no Caribe. Os lucros para esses proprietários podem ser muito mais elevados em certas condições. Especificamente, o relatório examina os custos e benefícios de cinco produtos-chave da restauração:
Receita de ganhos de produtividade agrícola, visto que a restauração impulsiona rendimentos de culturas como milho, soja e trigo; e custos de segurança de alimentos evitados, derivados de prêmios de seguros agrícolas mais baixos como amortecedores de perdas para os agricultores;
Aumento da receita de produtos florestais madeireiros, como madeira e celulose;
Vendas e utilização de produtos florestais não-madeireiros, como produtos médicos e de animais, frutas, sementes e outras culturas arbóreas;
Rendimentos provenientes do aumento do ecoturismo em terras restauradas; e
Valor do sequestro de carbono por árvores e vegetação de paisagens restauradas.
“Temos a responsabilidade de gerir de forma sustentável a nossa propriedade, e esse relatório mostra que, como pessoas de negócios, também temos boas razões financeiras para fazê-lo”, disse Eric Poncon, proprietário do Rock Hacienda e Ecolodge Morgan em Playa Ocotal Estado, na Nicarágua. “Desde que inauguramos nossa propriedade de cerca de 1600 hectares, nós transformamos metade em reserva particular e plantamos mais de dois milhões de árvores. Nos beneficiamos do aumento do turismo, do uso dos produtos das nossas fazendas e, em breve, veremos os benefícios de nossas operações florestais sustentáveis”.
O relatório também salienta que, além dos benefícios econômicos diretos, a restauração continua sendo uma das ferramentas econômicas mais efetivas da América Latina para mitigar as mudanças climáticas e cumprir as metas para amenizas seus efeitos. Na América Latina, 56 % de todas as emissões de gases de efeito estufa são provenientes do uso e da mudança no uso da terra. A restauração tem potencial para sequestrar quase 5 Gigaton de CO2 em mais de 50 anos, quase o total da pegada de carbono anual da América Latina.
Pecuária Sustentável no Brasil
A pecuária contribui com cerca de 65-70% do desmatamento no Brasil. Mas como restaurar e administrar de forma sustentável toda a terra desmatada que está sendo utilizada intensamente por fazendeiros e agricultores? O programa Novo Campo no estado de Mato Grosso mostra como a restauração pode impulsionar o desenvolvimento econômico através de melhores práticas de pecuária e “silvipastoril”, técnica que reintroduz árvores em pastagens. Produtores rurais inseridos no programa ajudaram a vegetação a se regenerar naturalmente em áreas desmatadas, o que aumentou a qualidade do solo e da água e a disponibilidade de alimento e abrigo para o gado. Com estes métodos, os agricultores foram capazes de acomodar mais gado em uma área menor e produzir uma maior quantidade de carne, devido a um gado mais saudável. No programa piloto do Novo Campo, as margens de lucro bruto aumentaram em até US$ 217 por hectare. Nossa análise mostra que isso não é incomum: em média, os produtores que restauram suas terras podem ganhar US$ 274 extras no valor líquido dos benefícios por hectare.
Acesse o relatório completo, em inglês, em: http://www.wri.org/publication/economic-case-for-restoration-20×20
Sobre o WRI Brasil
O WRI Brasil trabalha em estreita colaboração com líderes para transformar grandes ideias em ações para preservar nossos recursos naturais — base para oportunidades econômicas e para o bem-estar humano. Focamos em três questões críticas na intersecção entre o desenvolvimento socioeconômico e o meio ambiente: cidades e transporte, mudanças climáticas e florestas. Estamos associados ao World Resources Institute (WRI), uma organização mundial de pesquisa. O trabalho do WRI abrange mais de 50 países, com escritórios nos Estados Unidos, China, Índia, Brasil, México, Europa e Indonésia.